Apresentação o Triunfo dos Empreendedores nos Açores

Apresentação o Triunfo dos Empreendedores - Açores

Dar visibilidade ao trabalho realizado na Região Autónoma dos Açores, no que à Educação para o Empreendedorismo diz respeito, não só é justo como oportuno. Com o envolvimento das Direções Regionais da Juventude e da Educação e com a colaboração da SDEA a promoção da cultura empreendedora, através do projeto aplicado às escolas da RAA, tem-se afirmado na agenda politica regional. Só por curiosidade refira-se que no ano de implementação estiveram envolvidos 25 escolas, 53 professores e mais de 1000 alunos. 6 anos depois regista-se a participação de 62 escolas, 110 professores e cerca de 3000 alunos. Sendo a educação para o empreendedorismo uma via privilegiada na formação das nossas crianças e jovens -que se virão a revelar cidadãos ativos, socialmente integrados, participativos e, sobretudo, capazes decidir o seu próprio futuro- foi com muito orgulho que constatei o forte interesse neste programa educativo, por parte dos participantes na sessão de apresentação do meu livro ontem em Ponta Delgada.

Para memoria futura partilho o discurso que suportou a minha intervenção .

Discurso de Apresentação do Livro “O Triunfo dos Empreendedores”
UnOffice Business & Cowork Center – Ponta Delgada

Boa tarde!

Queria em primeiro lugar começar por agradecer ao Empreendedor, Paulo Mendes, não só pela cedência deste espaço único mas principalmente por todo o apoio e disponibilidade com que me distinguiu na organização e dinamização deste evento.

Em seguida, agradeço, ao Presidente da SDEA – Sociedade para o Desenvolvimento Empresarial dos Açores, Dr Arnaldo Machado, por ter aceite o convite que lhe enderecei para se associar à presente iniciativa bem como pelo entusiasmo e confiança com que sempre me apoiou nas diversas iniciativas que em boa hora tem sido possível realizar no fomento da cultura empreendedora na Região Autónoma dos Açores. Quer na qualidade de Diretor Regional, quer na atual posição de Presidente da SDEA, importa reconhecer-lhe um papel importante na promoção da atitude empreendedora nos Açores, em especial junto dos jovens Açorianos.

Agradeço, ainda, muito sentidamente ao Professor, Gualter Couto, por se ter disponibilizado a estar hoje aqui presente nesta sessão para comentar o meu livro. Não estarei a exagerar se referir que se trata de uma referência, no meio académico e profissional, na forma como tem vindo a aprofundar e discutir o papel do empreendedorismo enquanto processo catalisador de mais criatividade, inovação, crescimento e desenvolvimento. Merece especial relevo não só o seu envolvimento na direção do Centro de Empreendedorismo da Universidade dos Açores, a coordenação do manual de empreendedorismo, gestão e espírito empresarial mas também a forma empreendedora com que se distinguiu ao longo das várias etapas do processo de implementação do Programa de Educação para o Empreendedorismo na RAA.

Merecem igualmente uma palavra de reconhecimento os responsáveis das Direções Regionais da Educação e da Juventude do Governo Regional dos Açores, pelo seu papel na importante missão de implementar, junto das comunidades educativas, a iniciativa Educação Empreendedora: O Caminho do Sucesso! através da qual tem sido possível incentivar uma nova geração de açorianos a saber definir objetivos de vida, a projetar caminhos, a vencer obstáculos e a aceitar desafios. Também muito agradeço aos Diretores de Agrupamentos de Escolas, Diretores dos Centros de Formação de Associações de Escolas, Professores, Alunos e Funcionários, dispersos pelas nove Ilhas, todo o entusiasmo e profissionalismo com que têm colaborado e envolvido na operacionalização das diversas etapas do referido Programa.

Por último queria manifestar o meu agradecimento a toda a equipa da GesEntrepreneur, em particular aos seus elementos que têm contribuído para a concretização do Programa Educação para o Empreendedorismo na RAA. Tenho consciência que só com a sua competência e elevada capacidade de trabalho, foi é possível alcançar os objetivos a que nos propomos, com a conceção e implementação da nossa metodologia, na área da educação para o empreendedorismo, e por essa via obter um lugar de destaque junto da comunidade educativa da RAA.

Caros Amigos:
A exemplo das apresentações que fiz noutras Regiões do País não vou falar muito do livro já que ele fala por si.

Este livro, em formato de cartas, tem como base o enorme potencial que o investimento na educação para o empreendedorismo possibilita, com a capacitação dos nossos jovens talentos.
Esta constatação assume particular relevância quando as evidências nos demonstram que, nas últimas duas décadas, muitos países do mundo reconheceram a falha dos seus sistemas educativos, na educação dos seus jovens, nomeadamente em educá-los para criarem e não simplesmente educá-los para responderem a oportunidades económicas.

Consciente de que as estatísticas oficiais apontam para um número cada vez maior de jovens, que nem estudam nem trabalham, torna-se imprescindível ter coragem para assumir que algo não está bem no nosso sistema educativo e consequentemente encontrar soluções para colmatar essas lacunas. Estas soluções devem permitir preparar as gerações atuais e futuras com as aptidões
necessárias para terem sucesso e, naturalmente, poderem ajudar os menos capacitados.

Penso ser oportuno tecer algumas considerações que possam ajudar a refletir sobre as necessidades que o sistema educativo deve satisfazer com vista a desenvolver nos nossos jovens as aptidões adequadas a poderem transformar-se em líderes que, no futuro, assumam a resolução de problemas cada vez mais complexos, interligados e em permanente mudança.

É recomendável, por isso, que se continue a repensar a forma como o sistema educativo tem vindo a interligar-se com as necessidades de uma sociedade em constante mutação em particular na inclusão do empreendedorismo e da inovação, através de abordagens transdisciplinares e métodos de ensino interativos recorrendo a novos modelos, enquadramentos e paradigmas.

Saber trabalhar em conjunto na resolução de problemas, dividir tarefas, ouvir e partilhar ideias e sinergias entre as pessoas de um grupo para propor soluções inovadoras e mais eficientes, são competências essenciais que, inclusivamente vão passar, a integrar os estudos de avaliação do PISA (que significa, em português, Programa Internacional de Avaliação de Alunos).

A integração da Educação para o Empreendedorismo no sistema educativo assume-se assim como uma competência chave para todos os alunos, na medida em que apoia o desenvolvimento pessoal, a cidadania ativa, a inclusão social e a empregabilidade, como tão bem tem sido referenciado pela Agência Europeia de Educação, Eurydice.

Terá assim de ser reconhecido o importante trabalho desenvolvido, desde o ano letivo 2010/2011, pelo Governo Regional dos Açores, na promoção da cultura empreendedora através do projeto aplicado às escolas da Região Autónoma dos Açores com o objetivo de incentivar os alunos e professores para a adoção de um novo espírito de iniciativa e dinamismo que expanda os seus horizontes futuros.

O referido Programa de Educação em Empreendedorismo tem como objetivos despertar e incentivar nos professores e nos alunos dos Açores o potencial empreendedor e a possibilidade de poder controlar o seu futuro, permitindo, a longo prazo, criar o seu próprio emprego e contribuir, simultaneamente, para a política ativa de emprego e para a criação de riqueza na Região. No ano de implementação do programa estiveram envolvidas 25 escolas, 51 professores e cerca de 1000 alunos. Por sua vez no presente ano letivo, 2016/2017, regista-se a participação de 62 escolas, 144 professores e mais de 3000 alunos representando um aumento de 148% de escolas, 182% de professores e 200% de alunos.

Sabendo que as metodologias adotadas na implementação do citado programa recorrem a formas interativas e empíricas de ensinar e aprender, ao mesmo tempo que estabelecem uma ligação do contexto sala de aula e do espaço escola à comunidade empresarial, que a rodeia, permite acreditar que estão a contribuir para libertar o espírito nato, dos jovens estudantes açorianos, podendo ser um fator indutor da manutenção dos mesmos na escola.Este facto é tanto mais importante quanto se sabe que os Açores se debatem por um lado com uma elevada taxa de retenção no Ensino Básico e com índices de educação mais baixos que a média nacional (ensino secundário e ensino superior) e por outro com forte aversão ao risco, baixo desejo de criar o próprio negócio (bem evidenciado nos alunos da Universidade dos Açores) e com falta de estímulo ao risco, à criatividade e à inovação.

Com uma pirâmide etária a revelar um cenário animador, ao mostrar que a população regional é muito jovem, é de salientar este esforço na disseminação do espirito e iniciativa empreendedora dos jovens em idade escolar, uma vez que quanto mais jovem a população, maior é a propensão para o empreendedorismo facto que assume grande relevância para o ecossistema empreendedor da RAA.

A este nível não posso deixar de realçar a crescente dinâmica empreendedora da Região, as várias iniciativas que têm sido implementadas através da estruturação do seu ecossistema empreendedor o qual possui grande potencial e poderá servir na perfeição os empreendedores que entendam desenvolver os seus negócios nos Açores. Acredito, por isso, que a educação para o empreendedorismo possa ser uma via privilegiada na formação das nossas crianças e jovens que se virão a revelar cidadãos ativos, socialmente integrados, participativos e, sobretudo, capazes de decidir o seu próprio futuro.

O facto de grande parte dos intervenientes que iniciaram esta caminhada empreendedora terem voltado a abraçar o programa nas edições seguintes,
permitiu-lhes adquirir uma motivação e capacidade de aprendizagem muito acima da média, revelando claramente que a educação para o empreendedorismo deve ser um processo contínuo ao longo do percurso escolar.

E é especialmente o interesse – melhor ainda, o entusiasmo – com que professores e alunos têm abraçado este programa que me faz acreditar que este é o caminho certo da Educação. Mas relembro, um caminho só possível de trilhar se, ao longo do mesmo, for potencializado um ambiente para o aluno construir o seu próprio saber empreendedor. Mas muitos são já os Professores desta Região que se encontram a “construir as pontes” e a “lutar pelas causas” que contribuirão para a Mudança de Atitude que tanto necessitamos.

Tenho por isso esperança que, daqui a 5 ou 10 anos, quando os alunos de hoje estiverem a terminar os seus percursos académicos, tenham outras opções e perspetivas que lhes permitam iniciar um conjunto de projetos próprios e inovadores, por conta própria ou não, e não se cinjam apenas ao envio de currículos, centrados em competências técnicas (hard skils). Contudo continuamos a verificar que, para alguns, o empreendedorismo continua a ser visto, com desconfiança, porque apesar de estar em todo o lado (políticas públicas, discursos de responsáveis de organizações, comunicação social …), não contribui, segundo eles, para resolver os problemas da economia não sendo mais que um disfarce que serve para iludir a chaga do desemprego.

Esta é, para mim, a visão de uma elite burocrata que despreza tudo quanto seja inovador e moderno, e que infelizmente só produz eco graças a um tal nível de astúcia linguística que ganha força na passividade alheia. Naturalmente que não me revejo nesta visão, pois acredito no empreendedorismo enquanto condição absolutamente necessária para dinamizar a atividade económica de um país e garantir um crescimento inclusivo, equilibrado e sustentável.

Mas a implementação destes contextos pressupõe, em primeiro lugar, uma prévia capacitação dos nossos educadores, em contexto não formal, que lhes permita identificarem as suas próprias fórmulas para terem sucesso como professores empreendedores e a reconhecerem a importância de as partilhar, dentro e fora, do espaço Escola.

É aqui que o papel da Escola assume importância primordial na preparação dos nossos jovens para um futuro mais empreendedor, proporcionando aos alunos um
conjunto de ferramentas que permitam mobilizá-los para a resolução de problemas, através de pequenos desafios e atividades destinadas a incentivá-los a prepararem-se para uma sociedade cada vez mais globalizada e globalizante, onde as oportunidades são infinitas e o mercado é todo o planeta.

Por sua vez cabe ao Professor, enquanto facilitador por excelência, assumir a importante tarefa de “romper” com o velho modelo de aprendizagem baseado na mera acumulação do saber científico para consumo no próprio sistema educativo e dar a conhecer aos alunos novas formas de perceção do mundo, trabalhando atitudes e comportamentos baseados em atividades em que o risco, a capacidade de inovar e de conviver com a incerteza são elementos indispensáveis.

Deixo, por isso, um apelo aos Professores aqui presentes e a todos aqueles que virão a ter acesso ao conteúdo destas Cartas, para que não deixem de partilhar as suas experiencias e reflexões, não só com os colegas, mas também com a comunidade, família, amigos, redes sociais e outros círculos que frequentem. De facto torna-se interessante pensar no efeito multiplicador que pode estar associado a cada professor, derivado da sua capacidade cognitiva que lhe permite manter cerca de 150 relações sociais estáveis, nomeadamente junto dos seus alunos, no contexto sala de aula, ou fora dela no espaço Escola, comunidade social e /ou família, ou outro círculo que o mesmo frequente e cujos contactos são mais fortes.

Porventura é um caminho difícil, mas que premeia quem o percorrer até ao fim, dando-lhe a convicção inestimável de que, de alguma forma, ajudou a determinar o modo de vida dos jovens. Todos os que assumem a responsabilidade de orientar os nossos jovens chegarão ao final da viagem muito mais enriquecidos. Tenho a certeza disso!

A todos, muito obrigado pela vossa presença.

Francisco Banha
Ponta Delgada, 31 de Janeiro de 2017
fbanha@gesbanha.com

Existe 1 comentário

  • José Afonso3-23-2017

    Muito bom discurso Francisco e tiro-lhe ainda mais o chapéu caso ainda tenha transcrito o texto todo.
    Também acho que muitos dos pequenos (recém licenciados) só deviam fazer o primeiro currículo e, depois de terem a experiência de 2 ou 3 anos de trabalho se aventurarem por si.

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